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Escrito por
Eduardo Sá
Sábado, 14
Abril 2012
Todas as
crianças têm o direito a ser crianças. E têm o direito a crescer livres, mas
com regras, num país amigo das crianças.
Todas as
crianças têm o direito a um país cuja Lei do Trabalho preveja que as consultas
de obstetrícia sejam, também, uma obrigação de todos os homens à espera dum
bebé. Onde as crianças não tenham de sair cedo demais de casa. E onde os
berçários e os jardins-de-infância sejam, tendencialmente, gratuitos e para
todos, sendo reconhecidos como uma condição essencial para que a educação seja
melhor, mais plural e mais bonita.
Todas as
crianças têm direito a uma escola que as eduque, antes de instruir. Onde não
passem tempo demais, todos os dias. Em que as aulas não sejam tão grandes como
têm sido e se poupe nos trabalhos de casa. E em que os recreios sejam maiores
em tempo e melhores nas condições de segurança e nos recursos que põem ao
dispor de todas as crianças.
Todas as
crianças têm, também, direito a livros escolares gratuitos, para todo o ensino
obrigatório, que sejam, idealmente, propriedade de cada escola, sendo as
crianças obrigadas a acarinhá-los, todos os dias, porque só quando o
conhecimento passa de uns para outros, e se trata com cuidado, nos torna
sábios.
Numa escola
amiga das crianças os professores contam histórias e acarinham, quando ensinam.
E haverá, por isso, um quadro de honra para todos os alunos faladores. Porque
uma escola que não fala e não escuta vive assustada e fechada sobre si. E, se
for assim, educa mal. E não é escola.
Numa escola
amiga das crianças todas elas estão obrigadas a ser agressivas. Com maneiras. E
a ser leais, umas com as outras. Numa escola amiga das crianças as que fazem
queixinhas, a torto e a direito, os alunos exemplares, os alunos solitários e
mal-educados, os alunos violentos, e aqueles que repetem mas não pensam são
crianças cujos pais têm necessidades educativas especiais. Devem, portanto, ser
ajudados. Mas se, teimosamente, não quiserem perceber os perigos com que magoam
os filhos, talvez não merecem ser pais.
Num país
amigo das crianças, todas elas têm direito a tempo livre. Sem a tutela
permanente dos seus pais. E sem ateliês onde façam os trabalhos de casa, onde
vejam televisão e onde tenham de estar quietas e caladas. Aliás, num país
assim, todas as crianças terão direito a conversar. Porque só quando se pensa
com os outros, conversando com os botões e em voz alta, ao mesmo tempo, se
aprende a crescer.
Num país
amigo delas, todas as crianças têm direito a brincar. Todos os dias, sem
direito a férias, pontes ou feriados. E a brincar com um dos pais, 30 minutos,
de segunda a domingo. Têm, também, o direito a ser filhas únicas dos seus pais,
uma vez por semana, por um bocadinho. E a ter os pais, ao jantar e depois dele,
sem telemóveis e sem televisão, só para a família.
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